Como é feita a tradução de livros infantis no Brasil?

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Fonte da imagem: Blog da Companhia

Oi gente! Belezinha?

O tema do post de hoje é algo pelo qual sou apaixonada: Tradução!!!
Simmm 😍… Inclusive, pela minha área de formação (Letras), e pelo interesse que sempre tive pela língua inglesa, esse post é bem especial para mim hehehe…

Você já parou para pensar como são feitas as traduções das obras infantis?
Pela minha experiência de apreciar vários textos, não apenas de autores brasileiros mas especialmente de autores estrangeiros (e o mercado de literatura infantil está bem abastecido deles), sempre procuro visualizar como era o texto no seu original. Sério! Isso é uma das coisas nas quais me pego imaginando quando me deparo com um livro que sei que foi traduzido do inglês para o português rsrs… Claro, já vi traduções bem ruins, mas a maioria (ainda bem!) é muito boa, e algumas são tão legais que você nem percebe que foram escritas em outro idioma, de tão fluentes que ficam!!! A estes tradutores, meus parabéns ;D

Uma das editoras que mais capricha na tradução de suas obras infantis é, com certeza, a Companhia das Letrinhas (da qual sou fã dos títulos!). Alguns dos livros favoritos na nossa casa são deste selo, e dos que eu mais admiro e indico também (pausa para um elogio: “Cadê o meu penico”? merece muitos aplausos!!!)...

Aliando o amor pela tradução e pelos livros infantis, trouxe a vocês essa entrevista super bacana que foi publicada na Revista Tradterm, inteiramente dedicada aos Estudos da Tradução na USP (Universidade de São Paulo), na qual os editores da Companhia das Letrinhas e Seguinte (ambos selos da Companhia das Letras dedicados à literatura infantil e juvenil) dão um panorama do processo tradutório das obras estrangeiras no âmbito da editora. Que caminhos o texto percorre até chegar nesse livro tão legal que você lê com sua criança? Você pode conferir neste link (clique aqui) a entrevista completa, publicada no volume 30 (2017) da Tradterm. Solicitei permissão aos editores da revista para replicar aqui no blog essa super entrevista, que você pode conferir agora (tá legal demais!):

Entrevista com os editores do selo Companhia das Letrinhas

A entrevista aqui apresentada foi concedida via e-mail pelos dois editores entre os dias 17 e 23 de maio de 2017. O foco da entrevista são as traduções publicadas pelo selo Companhia das Letrinhas: mercado de tradução, escolhas da equipe de tradutores, revisões, intervenções por parte dos editores, etc.

Antônio Augusto Castro do Nascimento, 24 anos, natural de Guaratinguetá – SP, é formado em letras pela Universidade de São Paulo, faz parte da equipe editorial dos selos: Seguinte e Companhia das Letrinhas do Grupo Companhia das Letras.

Gabriela Ubrig Tonelli, 24 anos, natural de São Paulo – SP, formada em Editoração pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Desde 2014, faz parte da equipe editorial dos selos: Seguinte e Companhia das Letrinhas do Grupo Companhia das Letras.

Entrevista sobre o mercado de traduções

Como vocês veem o mercado de tradução de obras para o público infantil e juvenil no Brasil hoje? Há muita demanda?

Editores (eds): No catálogo da Companhia das Letrinhas, cerca de metade das obras são internacionais, ou seja, precisam ser traduzidas. O catálogo da Seguinte (o selo juvenil do Grupo Companhia das Letras), porém, é quase inteiramente traduzido. Então existe uma demanda grande sim, mas especialmente maior na literatura juvenil. E essa questão é perceptível não só aqui, mas em outras editoras também!

Como é a escolha do tradutor para cada obra?

Costumamos pensar nos gostos pessoais do tradutor e no tipo de livro que ele costuma traduzir mais. Por exemplo, para um livro de poesia, é interessante escolhermos um tradutor que seja poeta ou que já tem bastante familiaridade com o assunto, se especializou nesse tipo de tradução etc. No caso da literatura infantil e/ou juvenil, por exemplo, precisamos de um tradutor que consiga se adaptar à linguagem desses públicos. Um tom de “tiozão” num livro pra adolescentes não rola, haha (sic).

Vocês contratam por trabalho ou já tem tradutores fixos na editora?

Editores (eds): Nossos tradutores são freelances, então contratamos por livro. É claro que, no caso de uma série, sempre fazemos de tudo para manter o mesmo tradutor, por exemplo. Nos livros infantis às vezes acontece de um ou outras traduções serem internas, realizadas por alguém da equipe editorial, mas essas são as exceções.

Os autores costumam influenciar nessa escolha do tradutor ou no próprio trabalho depois de pronto? Existe intervenção por parte de editoras do texto de origem?

Editores (eds): Quando contratamos os direitos de publicação de livro estrangeiro aqui no Brasil, às vezes existe uma cláusula no contrato de que a tradução precisa ser aprovada pelo agente literário (que representa o autor), pelo autor ou pela editora original. Nesse caso, se alguma adaptação não for aprovada por uma dessas instâncias, mudamos a edição e seguimos o pedido delas. No geral, os autores não costumam influenciar na escolha dos tradutores. A escolha é da equipe editorial, que sempre procura escolher o melhor tradutor para o livro e, em alguns casos, manter sempre o mesmo tradutor para as obras de um mesmo autor.

Como relação às coleções, vocês preferem que um mesmo tradutor traduza toda a obra do autor?

Editores (eds): Sim, em caso de séries e coleções, procuramos manter sempre o mesmo tradutor (assim mantemos também o mesmo tom de texto ao longo dos livros).

Qual a influência de vocês como editores no texto traduzido? Vocês fazem modificações/recomendações?

Editores (eds): Após recebermos a tradução, ela é encaminhada para a preparação de texto, que pode ser feita por alguém da equipe interna (o que costuma acontecer com os livros infantis) ou por um preparador de texto externo (o que normalmente acontece com os livros juvenis e/ou “adultos”). Essa é a primeira edição do texto, que será padronizado e conferido (tanto em questões ortográficas e gramaticais quanto se a tradução está correta, se o arquivo está completo, se alguma adaptação poderia ser melhorada etc.). Após a preparação, o texto passa pela edição, ou seja, pela leitura e por alterações feitas pelo editor do livro. O texto traduzido normalmente sofre muitas mudanças, especialmente de adequação de tom ao público, além de outras escolhas editoriais, como escolha final do título, de nomes de personagens etc. Quando necessário (e quando são grandes mudanças), há uma conversa entre o editor e o tradutor para rever alguns pontos etc. Mas não necessariamente toda mudança no texto traduzido passa pelo tradutor (um erro, por exemplo, será corrigido e nem sempre mencionado ao tradutor).

Qual a preocupação de vocês com relação ao texto traduzido para o público infantil?

Editores (eds): A grande preocupação talvez seja deixar o texto realmente próximo do leitor. Ele deve conversar com seu público, ou seja, com a criança brasileira. Isso envolve tanto a questão do tom usado (além de sempre seguirmos o original, claro; por exemplo, textos mais formais na língua original devem manter-se mais formais em português) quanto a questão de adaptação de contexto e de palavras (por exemplo, um livro que fala sobre sorvetes deve trazer sabores conhecidos pelas crianças aqui no Brasil, por isso muitas vezes existe uma conversa entre editor-tradutor e editor-autor/agente literário/editora original para que haja uma adaptação e a melhor opção seja a que chegue até o leitor).

Qual a posição de vocês com relação à domesticação e estrangeirização do texto fonte?

Editores (eds): Já exemplificamos algumas vezes em que achamos importante uma “adaptação” para um contexto mais brasileiro, mas a proposta não é mudar a “cara” do livro ou simplesmente abrasileirá-lo — o importante é o leitor entender a mensagem e se sentir próximo da história, personagens etc.; mesmo que ela se passe em um lugar diferente.

Gostou? Bastante esclarecedor não é?

Agradeço muito aos editores da Revista Tradterm (em especial à Profª. Drª. Lineide do Lago Salvador Mosca, editora responsável pela edição 30 da revista que aqui mencionamos, e que nos autorizou replicar o conteúdo) e aos editores da Cia. das Letrinhas pela excelente entrevista! E também obrigada às autoras da entrevista, as pesquisadoras Sheila Cristina Santos, Marie Helène Torres e Gabriela Paulo, todas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), parabéns pela iniciativa!

Se você tiver sugestões ou quer ver mais sobre algum assunto relacionado à literatura infantil aqui no Lendo Junto, pode enviar sua sugestão através do e-mail lendojunto@gmail.com, ou pelas redes sociais do blog: @lendojunto .

Um abraço e até o próximo post :D
Jaqueline

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